segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ela tem saudade...



... até do que não viveu.
Ela não sabe como isso se dá, apenas sente. Sente falta dos beijos que não teve, dos carinhos não recebidos, das tardes de pique-nique que não fizeram, dos loucos devaneios que não foram comentados na luz do luar. Sonha com o eu te amo que não disse e nem ouviu, sente falta deles, e isso dói.
É como se lhe apertassem o peito e tirassem-lhe o ar. Não sabe como proceder ao sentir pelo que não esteve em suas mãos. Não sabe se luta para que aconteça, ou se espera para ver se acontecerá.
O muro, aquele que ela mesma construiu, não caiu. Continua ali, talvez não tenha vivido estes momentos por culpa dele, que a cerca e a impede de ver completamente o mundo. A culpa é somente dela, que por anos, levada por um medo que não a pertencia, acrescentou tijolos nele.
Mas a saudade do que não viveu, por diversas vezes chega a entorpece-la, de tal modo que ela pensa em cometer insanidades daquelas bem insanas, fugir de si a ponto de não mais se encontrar, correr para longe até perder o folego, voar além dos céus, ser tão profunda que nem os que lhe cercam consigam enxerga-la, mudar de tal forma que ninguém a reconheça. Devaneios, loucos, tenros, não maiores que sua razão, que é tão sólida quanto ao muro.
A saudade do que não viveu, permanecerá até que venha vivenciar.





"Também temos saudade do que não existiu,
e dói bastante."
(Carlos Drummond de Andrade)

Trilha Sonora: From Where You Are - Lifehouse


3 comentários:

Thiago disse...

saudade é a coisa mais sem pé e sem cabeça desse mundo.

Leonardo Almeida disse...

ééé, a tal da saudade.

Layz Costa disse...

é verdade, saudade do que não existiu é tão comum.
O que é incomum é a gente saber o que sente. =)
Lindo, como sempre.
beijo
=*